O processo de criação dos escritos para o documentário POEMARIA 2015 escorregou no prazer de descoberta das fantasias imersas nessa obra de arte cinematográfica. Como psicanalista e artista que busca desvendar possíveis articulações entre os enigmas do Inconsciente, a proposta não poderia ser outra, mas tentar decifrar a dimensão do indizível e do inefável da poesia-falada. A condição humana profunda se revela de forma extraordinária na expressão sensorial dos artistas que ousam recitar poemas, lançando-se na palavra dita, bem como no silêncio que sustenta o encanto de cada experiência. Diante dos depoimentos, a autora se deixou afetar e, aos poucos, também deu alguns mergulhos nos sonhos, devaneios e imagens-palavras construídas em POEMARIA. Assim, brechas foram criadas para um constante e inevitável encontro da Arte com a Psicanálise. Entre mistérios e descobertas, o lúdico reivindica espaço e o brincar aparece em força de expressão cinematográfica. A obra POEMARIA, dirigido por Davi Kinski, aposta no olhar do cinema como arte em sonhos, trazendo à tona a coexistência de palavras e imagens na tentativa de traduzirem o transbordamento de conflitos demasiadamente humanos.
Em espaços criados na fenda da ilusão, a aposta é traçar e abrir caminhos, descobertas múltiplas sobre a possibilidade de ser-humano em palavra. Desse modo, refletir e escrever sobre POEMARIA é também um exercício poético na busca de sentidos intrínsecos à beleza da imagem visual e mental da palavra-recitada.
Fernanda Fazzio é psicóloga, psicanalista e escritora | www.fernandafazzio.com.br